16/06/2007

O lugar é muito lindo

Caramba!!! Quanta coisa para pouca cabeça... nem dá para assimilar tudo, naquele ultimo dia que postei alguma coisa meus pais apareceram aqui em Antonina e acabram indo visitar lá o acampamento....

Roda de chimarrão

Mas não é isso que está nos deixando desnorteados, e sim o sofrimento, a dificuladade e as desgraças que parecem que predominam na vida da maioria daqueles acampados. O concvívio com eles, dia a dia, a proximidade, os trabalhos no coletivo, os almoços, jantas, cafés da manhã em companhia dos moradores dos acampados. As rodas de chimarrão, os trabalhos, os banhos de rio, tudo isso nos colocou muito proximos deles, de forma a expor não só a força mas a sua fragilidade em meio tanto sofrimento.


O lugar não é perfeito, tem fofoca, tem gente preguiçosa, tem gente desonesta, tem criança largada (diferente de solta). Muita desconfiança entre os companheiros, confesso que é difícil trabalhar com o povo lá.. poucos são os que se animam para participar das atividades propostas por motivos de desavenças.
O banheiro seco foi adiado pois os coordenadores viajaram para Brasilia, amanha eles voltam e segunda vamos começar a fazer o tal banheiro. Enquanto isso foi proposto que trabalhássemos com a juventude, fazer uma copmposteira e tal. Mas que nada!!! A maioria não foi e os que foram estavam bem poucos interessados, queriram mesmo saber quando ia terminar tudo para poderem pescar ou jogar bola, atividades predominantes entre os garotos, que deviam dedicar parte do tempo a ajudar a realmente construir o acampamento, regar as hortas que estão esturricando, ajudar a cuidar das crianças menorzinhas e tudo mais o que precisa ser feito.


Não estou dizendo que todos são assim, mas quem não é, cansa com a má vontade dos outros e acaba que fica mais em seu próprio terreno, participando pouco das atividades coletivas. Talvez também essa semana tenha sido assim porque a coordenação não está no acampamento. Nem o almoço coletivo que é para ser feito todo dia, não está sendo feito.



Carregando os bambus para construir a casa da Dona Sirlene

Mas estamos na luta unidos com as pessoas interessadas, tem uma senhora, a Dona Sirlene, que tem uma história de vida muito sofrida, entre as desgraças de sua vida é que recentemente incendiaram a casa dela em Paranaguá e agora ela não tem praticamente nada e luta para construir sozinha com seu filho outra casa no acampamento. Cito ela apenas porque se mostrou interessada em aprender e trabalhar com a gente. Ela também tem muita coisa para ensinar, um conehcimento ancestral valiosíssimo que não pode ser perdido.


Os 4 alicerces

Esses últimos dois dias nos dedicamos a ajudá-la a construir sua casa, seu barraco, como eles costumam a se refirir aos seus lares. E foi difícil, muita pouca gente para ajudar. Imagine, Eu o Clé, a Lara, Dona Sirlene (que já tem seus 50 anos), seu filho (apenas a tarde por causa da escola) e mais um ou dois companheiros dedicados na luta.... Pelo menos conseguimos os 4 alicerces, que por sinal ficaram bem firmes.

Mas assusta, assusta a impossibilidade de fazer alguma coisa, assusta o desinteresse das cruanças e jovens, assusta a pobreza, assusta o desleixo com o lixo, a falta de recursos . Esse acampamento é um lugar que precisa de muito trabalho ainda, muita ajuda moral, muita mudança de perspectiva.




Fazendo farinha de mandioca

Apesar disso tudo eles realmente têm muito o que ensinar, aprendi a mandioca, doce de banana. Aprendi que para descascar a mandioca da farinha é diferente que descascar para cozinhar. Aprendi a fazer mandioca chips, banana chips. Que se planta mandioca na lua nova de setembro, que dá para madurar banana com fogo e mais um milhão de coisinhas que nem eu sei ainda. Mas principalmente aprendemos coisas que só vida ensina mesmo e não dá para escrever aqui.

Não sei quando vamos mandar noticias novamente... do acampamento pretendemos partir em direção à Guaraqueçaba, no caminho vamos parar numa comunidade onde terá o ENCA (Encontro Nacioiadades Alternativas) e depois do ENCA iremos para Supergui, e depois Cardoso e assim sempre rumo ao Norte, isto é.... se o destino não brincar novamente com nossos planos.

Fico por aqui com um pedido:
Ramifica o amor nessa Terra
Que precisa dos carinhos teus

3 comentários:

Unknown disse...

Estimadíssimos amigos...recebi sim a mesnagem de vcs...e infelizmente estava no retorno de Brasília, onde stava acontecendo o v Congresso Nacional do MST com mais de 17 mil pessoas.Enfim, voltei...e foi lá no congresso que falei com Jonas e Ceres, que são os coordenadores desse acampamento que estão e me contaram de vcs, fico muito feliz mesmo, pois tinha a certeza que se passassem por aí vcs iriam se sentir como estão se sentindo, intimamente relacionados a causas dessas pessoas maravilhosas e iriam despertar em vocês a imensa vontade de contribuir com elas.
Esse acampamento, é um dos mais ricos em diversidade cultural já existente no NST aqui no PR, porém, assim como vcs estão vivênciando, as dificuldades são imaensas. O acampamento é novo, as pessoas não possuem ainda muita formação política e ideológica , e com isso, muitas das iniciativas vinda de fora principalmente, encontram grandes dificuldades em serem trabalhadas no coletivo aí dentro.
Só pra esclarecer, conheço bastante esse grupo aí, Jonas (dirigente da brigada litoral) é meu amigo, Ceres é quem está assumindo junto com ele a parte tecnica do andamento da coisa aí, ela está se formando, era da FEAB e agora está entrando para a organização de cabeça. Augusto, q pessoa que ligou pra vcs, foi advogado da Terra de Direitos, é meu amigo e hoje é advogado do mst e tb tem grandes relações com as pessoas aí.
Sei que parece estranho, mas vcs irão, sempre que passar pelas comunidades do mst, principalmente nos acampamentos, pois é onde a incerteza reina nos corações onde sequer existe a certeza de estarem trabalhando numa terra que serão deles mesmos (os acampados), mas sempre encontraram controvérsias, divergências. Isso é algo que ainda temos muito a trabalhar. A organização não pode abrir mão da presença de determinada família por ela não possuir o sentimento socialista, coletivo, mas sim, com o tempo ir formando e apresentando novas maneiras (como o q vcs estão fazendo agora)de se organizarem e evoluirem, construnido sues próprios sustentos e assim conseguir sobreviver de forma mais autonoma e mais satisfatória para eles mesmos.
Quero que saibam que eu estarei divulgando sempre o trabalho de vcs e acredito que conseguirei encaminhá-los por muitos outros acampamentos e assentamentos não só do mst mas dos movimentos da via campesina em si, como os atingidos por barragens, as mulheres camponesas, os pequenos agricultores, e ainda as comunidades quilombolas,e a partir daí vcs verão as ínumeras diferenças que existem no decorrer de cada região, cada história.
Meus amigos queridos, fico cada dia mais orguhosa de saber que tenho vcs como amigos, e sinto muito mesmo de não ter ido encontrá-los , mas o dever me chama e tenho corrido muito contra o tempo pra dar conta das minhas tarefas.
Em julho teremos a Jornada de Agroecologia de novo, que se estivessem por aqui eu faria questão de levá-los para apresentar uma oficina sobre o que estão desenvolvendo, mas me contento em talvez conseguir escrever uma matéria sobre o projeto de vcs ou até mesmo fazer uma exposição de fotos e expeiências retratadas. Me ajudem a pensar num forma de apresentar vcs para os interessados que estarão na jornada.
E vão me avisando da Rota de vc pra eu tentar novos contatos e novas empreitadas.
Um grande beijo no coração de vcs 3 e cuidem-se que são raros nesse mundo. E só para conhecimento, o tema do 5º congresso em Brasília foi: REFORMA AGRÁRIA: POR JUSTIÇA SOCIAL E SOBERANIA POPULAR, linha de táticas e lutas para o próxima período. E da 6ª Jornada de Agroecologia será: CUIDANDO DA TERRA, PLANTANDO BIODVERSIDADE, COLHENDO SOBERANIA ALIMENTAR.
Essas frases traduzem todos nossos esforços, seja eu aqui, vcs aí e o restante das mais de mil famílias acampadas que esperam seu pedeço de chão para viver. beijosssss
"A TERRA É DE QUEM A TRABALHA" - Emiliano Zapata!!!

Unknown disse...

Ola queridos primos Debora e Cleverson. Nesses quilômetros de aventuras vejo que vocês tem acumulado muitas experiências e sabedorias que talvez nós, a grande maioria nunca sequer nem compreendamos. Vejo em vocês muita coragem e um despreendimento quase insuportável para nós que estamos pressos a nossa mediocre e soberba normalidade. Só posso pensar que vocês são feitos do mesmo material dos santos, e estão sendo forjados no amor da solidariedade. Que desta viajem de imersão por este universo humano, natural e espiritual vocês tragam para nós um pouquinho desse imenso amor que estão colhendo. Beijos do primo Nelson.

Anônimo disse...

oi filha..., estou com saudade de vcs. ; mamãe esta internada, caiu novamente, mas esta bem ... hj. Estou triste , mas aliviada por ler suas notícias.
Te amo muito mesmo!!!!
Mada.